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Particular universal
Em Res verso, desdobrando sua pesquisa em torno das “performatividades da mobilidade”, o artista desloca para o pátio da galeria o “objeto-síntese”usado nas travessias entre Europa e Américas, no século XV e XVI. Na instalação, entretanto, as velas foram acopladas a um tubo metálico fincado no concreto armado, impossibilitando qualquer deslocamento.
O título do trabalho, Res verso, imbrica um jogo semântico entre técnicas de navegação, como o modo de velejar contra o vento chamado de “à bolina”, cuja angulação de 45 graus evita o descontrole à deriva, e a função de compartilhamento do vento e, assim, do movimento do barco pelo duo de velas.
A estes dois aspectos técnicos ligados à navegação, Elilson agrega uma referência à expressão latina Res pública (República), se apropriando do prefixo Res (coisa), para comentar o momento distópico de inversão de valores que vivemos no mundo atual.
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Res verso, 2021velas, hastes, cordas750 x 700 x 292 cm1/1
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Elilson entende seu corpo como possibilidade de transporte e a escuta como matéria principal na criação. Nesse terreno polimórfico, corpo e cidade são sinônimos que alternam escalas. Em muitos de seus trabalhos, uma ação detona um encontro que, posteriormente, é inserido no campo da arte, por meio de leituras públicas. A linguagem escrita, entretanto, não surge de forma estanque, mas funciona como um detonador de novos encontros que se desdobram em novas ações em um permanente reescrever.
As obras de Elilson são o resultado de um quase delírio gramatical. O artista distorce a linguagem falada e escrita e dela extrai neologismos adequados aos encontros e confrontos que caracterizam seus deslocamentos. Suas ações soam como partituras sobre o espaço público em que descobertas e encontros se sobrepõem em camadas num fluxo entre gestos, olhares, escrituras e oralidades.
Ao investigar inter-relações entre performance e mobilidade urbana, seja caminhando a pé ou em comboios, Elilson constrói um imbricado sistema de imagens disparadoras do processo criativo, que se materializam em ações, performances, intervenções urbanas, textos, livros, instalações e peças sonoras que, por meio do particular, atingem a simplicidade que caracteriza o universal.
Marcos Gallon, julho, 2021
*Res verso ficou em exposição no pátio da Vermelho entre 2 e 31 de julho de 2021. -
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Chuva de Direitos, 2018segrifaria sobre tecido170 x 110 cmEdição de 24 + 1 PA
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texto 'Universal Particular': Marcos Gallon; demais textos: Elilson; fotos 'Res verso': Filipe Berndt; vídeo 'Res verso': Filipe Berndt; fotos 'Fa(r)dado': Renata Vieira, Aline Macedo; fotos 'Chuva de Direitos': Carolina Calcavecchia, Anette Carla Alencar; fotos 'Chuva de Direitos' (objeto): Flávia França; fotos 'Diástole': Renata Vieira, Júlia Fontes.